25 abril 2013

Celeste e os cravos no 25 de Abril


                                                        Celeste Martins Caeiro

http://www.youtube.com/watch?v=gaLWqy4e7ls
Grândola, Vila Morena. ZECA AFONSO

Do que gostava agora era de voltar a ver aquele soldado que recebeu das mäos dela o primeiro cravo e o colocou no cano da espingarda. Saber o que foi feito dele, rapaz moreno e täo jovem, uma cara que nunca esquecera.Celeste Martins Caeiro, 60 anos vividos sempre em Lisboa, vai esta noite pegar num cravo vermello e voltar como todos os anos ao Rossio, un sorriso tímido a recordar dentro as flores daquela manhä luminosa.

Já contou a história muitas vezes e continua a comover-se. No fim, diz simplesmente que foi tudo uma coincidência. "Mas uma coincidência bonita, näo acha? Porque afinal em vez de dar tiros as espingardas tinham flores."

A história é muito simples de contar. Celeste trabalhava no self-service do "Franjinhas", que tinha sido inaugurado em 25 de Abril de 1973. Como era o aniversário, o gerente comprou cravos vermelhos e brancos para oferecer a cada senhora que encontrase no restaurante, mas, com o movimento das tropas nas ruas resolveu fechar o porta: "Levem-me as flores para casa, é escusado ficarem a murchar."

As colegas foram direitinhas para casa, Celeste meteu-se no metro para ir para o Chiado, onde entäo vivia num quarto que o incêndio de 25 Agosto destruiu.

Saiu no Rossio e deu de caras com os tanques. "O que estäo aqui a fazer?", perguntou ao primeiro soldado que encontrou. E ele respondeu que era uma revoluçao. "E desde que horas andam nesto?. E ele disse que desde as duas da manhä e sem cigarros nem café. E ela que näo fumava, mas que tinha uns cravos, deu-lhe um: "Tome-lá" E ele pô-lo logo no cano da espingarda, e ela entäo subiu a rua a  oferecer  flores e subiu para os tanques e só descansou depois de ter estado todo o dia e toda a noite ali no Carmo.

Quando viu que as flores se multiplicavam nas espingardas e nas mäos das pessoas, descobriu que tinha desencadeado uma coisa importante. "Quase heróica", afinal.

(Texto de Ana Sousa Días)

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